segunda-feira, 2 de abril de 2012

Reflexão sobre a Greve de 2012

Minhas palavras sobre a greve de Cocal do Sul

O Plano Político Pedagógico da Escola de Ensino Fundamental Demétrio Bettiol, de Cocal do Sul, tem como missão: Garantir um ensino de qualidade, igualitário e inclusivo, ligando o conhecimento técnico ao prático, para a formação do cidadão consciente, transformador da sociedade e ecologicamente responsável.
O que fizeram os países evoluídos para garantir ensino de qualidade? Garantiram uma boa formação para os seus educadores. Sem um professor preparado não haverá mudanças positivas no sistema de Educação. Estudar mais, não é fácil: requer dinheiro e tempo. No entanto, muitos professores venceram as dificuldades para ter no mínimo uma especialização que agora, não querem valorizar no Plano de Carreira.
Vai faltar professor em nossas escolas. Aliás, nossa região já sente a carência em algumas disciplinas. Tem escola que reclama da falta de competência de alguns profissionais e já houve: “Pelo amor de Deus, fica com esse!” E os pais, nem imaginam que à medida que os governos desvalorizam o Magistério, a qualidade cai drasticamente.
Sempre discutimos em nossas reuniões que temos que trabalhar mais do que o conteúdo da disciplina que nos compete: temos que formar cidadãos conscientes dos seus deveres e direitos. A pergunta que não quer calar: Como é que uma pessoa que não tem consciência dos seus deveres e direitos pode ensinar isso aos outros? Nessa luta em tentar defender que a Lei do Piso, em Cocal do Sul, seja respeita, eu vi muitos colegas sendo iludidos por palavras bonitas e argumentos infundados. Talvez, porque estamos acostumados com a sofrer a indiferença do poder público, acreditamos que receber 14% está ótimo. Mas, há uma Lei Federal que diz que o valor é de 22,22%. Temos dados mostrando que a Prefeitura já recebeu 19% de aumento no valor do FUNDEB. Por que então não querem nos repassar na mesma proporção?
Em assembléia decidimos que precisamos apelar para o último e pior recurso: a greve. Sentimos que à medida que a Lei foi sendo esclarecida e os números conhecidos, os professores começaram a entender que não dá mais para tolerar certas imposições de nossos governantes. É óbvio que os cargos “comissionados” dirão aos alunos que haverá aula! Afinal, eles têm que obedecer porque é uma troca de favores: “Eu te coloquei lá e agora você faz o que eu mando!” Talvez, essas pessoas pensem como nós, mas não podem falar e muito menos se manifestar contra. Também tem os casos dos professores ACTs – Admitidos em Caráter Temporário – que sentem uma vontade imensa de estar do lado de quem luta, porém, tem medo de “ficarem marcados”. A eles, digo uma coisa que um dia ouvi da Bárbara, presidente do SISERP, quando falei sobre os alertas da minha família sobre possíveis represálias: “Corremos esse risco, mas passamos a ser mais respeitados também.” Até hoje não sofri nenhuma retaliação por participar dos movimentos sindicais.
Tento aceitar as ideias e posturas dos colegas que decidem não fazer greve ou pior ainda, trabalhar contra quem faz. Mas, não nego que perco a admiração por eles! É difícil aceitar que as conquistas serão para todos, grevistas ou não. Penso que as pessoas que posicionam-se ao lado dos governantes, para manter a dignidade moral, deveriam doar os valores recebidos em seus salários resultantes da luta dos colegas. Vou fazer algumas sugestões: doem cestas básicas para um asilo, levem fraldas para as crianças que estão em albergues, comprem material dourado para as aulas de matemática, arrumem os quadros, coloquem um espelho no banheiro feminino, consertem o Data-Show. Espero que essas pessoas não sejam as mesmas que reclamaram porque não foi providenciado um apagador para o início do ano letivo!
Se quisermos formar cidadãos transformadores da sociedade temos que agir adequadamente. Chega de discursos demagógicos. Mesmo assim, prometo que vou procurar respeitar os contrários. Tenho estudado muito a doutrina espírita que nos reconhece como seres em constante evolução e que precisamos compreender que nem todos os humanos estão no mesmo patamar. Juro que não há ironia no que acabo de escrever.

Ana Lúcia Pintro, professora da rede municipal de Cocal do Sul.

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